A NOSSA HISTORIA
NASCIMENTO
No ano de 1987, em meio às greves dos operários no ABC paulista, nasce a Artehúmus.
Nossa primeira tarefa coletiva foi escolher um nome para o grupo. Vence a possibilidade de juntarmos o húmus à arte, já que ambicionávamos produzir esterco, inserir adubo a nossa estética, além de encaixar aquele salve tão comum ao teatro: merda!
Éramos filhos de metalúrgicos e alguns trabalhavam em metalúrgicas: Airton Dupin, Alvini di Lima, Diaulas Ullysses, Edemir Praxedes Branca, Evill Rebouças, João Kinow e Paulo Alvadoro.
Artistas iniciantes. Horizonte incerto. Nossa experiência se resumia em repetir o mesmo curso, as mesmas práticas. O que mudava ao final de cada ciclo eram apenas as peças que iríamos montar - muitas delas pautadas por dramaturgia que não correspondia as nossos inquietações contemporâneas.
DESENVOLVIMENTO
Inauguramos uma nova fase, tendo a frente Evill Rebouças, Diaulas Ullysses e a entrada de Solange Moreno. Surgem os espetáculos No reino de Carícias, Pingo pingado, papel pintado e Dandara, o marinheiro com a participação de artistas convidados, entre eles, Carlos Albant, Celso Menezes, Lídia Zózima, Lize Nascimento, Luís Rossi, Marcos Moura, Tony Francisco e Tunica.
Um fato curioso: antes de decidirmos o tamanho da cenografia de todos os espetáculos, medíamos o carro mais espaçoso de um dos integrantes. Tornamo-nos craques em estruturas dobráveis!
NOVA FASE
Outras andanças! Os integrantes fixos tem a sorte de fazer e passar em testes para produções com suntuosos recursos financeiros. Tempo depois percebemos que a estrutura financeira não era mais importante do que a arte que gostaríamos de produzir. Voltamos! Mas precisávamos de mais parceiros interessados em trabalho continuado. Em 2004 chegam Daniel Ortega, Edu Silva, Leonardo Mussi, Osvaldo Anzolin e Roberta Ninin. Nessa etapa a Artehúmus recebe seu primeiro incentivo público – o Prêmio VAI de Iniciativas Culturais – e começa a investigar a arquitetura e carga semântica de espaços não convencionais como fonte geradora de discursos poéticos e políticos. Nasce Evangelho para lei-gos, apresentado no banheiro público, abaixo do Viaduto do Chá, tendo ainda como artistas convidados Bia Szvat, Bruno Feldman, Cláudia Cascarelli e Gilda Vandenbrande.
O espaço inusitado se torna elemento tão importante enquanto pesquisa do grupo que o assunto é objeto de mestrado de Evill Rebouças, publicado em livro pela Edunesp sob o título de A dramaturgia e a encenação no espaço não convencional. Surgem também os espetáculos As relações do Qorpo, apresentado na lanchonete, elevador e cobertura do SESC Consolação e, posteriormente readequado ao Teatro de Arena Eugênio Kusnet; Campo de trigo, apresentado na Capela N. S. de Lourdes (Porto/Portugal) no Festival Internacional do Porto.
Outros incentivos públicos vieram. Via Lei de Fomento ao Teatro continuamos a pesquisar outros elementos do espaço não convencional, resultando nos espetáculos Amada, mais conhecida como mulher e também chamada de Maria, onde percorríamos os cinco andares do prédio abandonado da CadoPo - Casa do Politécnico, no bairro do Bom Retiro; nas ruas da Vila Maria Zélia, sede do Grupo XIX de Teatro; no porão do Centro Cultural São Paulo; e na imensidão arquitetônica e histórica do Teatro Oficina. Depois vem OHamlet - do estado de homens e de bichos ocupando o jardim e quintal da Casa de Teatro Mariajosé de Carvalho (sede da Cia. Heliópolis); o terceiro andar do SESC Consolação; e nas áreas internas, externas e ruas que ladeiam a Oficina Cultural Oswald de Andrade. Além dos integrantes fixos, participam destes espetáculos os atores Álvaro Franco, Cristiano Sales, Fábio Supérbi, André Rosa, Davi Taiu, Janaina Meireles, Queila Rodrigues, Nilson Castor e Rafael Nascimento.
OS DIAS DE HOJE
Nosso último trabalho, O desvio do peixe no fluxo contínuo do aquário, conta com o ingresso fixo de Natália Guimarães no grupo e também estreia no terceiro andar do SESC Anchieta. Exploramos o espaço inusitado com o objetivo de aprofundar a relação com o espectador, iniciada em 2004. Como transpor para a cena a liberdade que o espectador tem, qual nas artes plásticas, para que ele decida o espaço e o tempo para apreciar a obra? Posteriormente fomos para o Teatro do Incêndio e ali o café tomado com os espectadores ganha dimensão de intimidade infinita - a ponto dele não distinguir se esse momento pertence ou não a ficção.
Em 2015 iniciamos – mais uma vez, via recursos da Lei de Fomento ao Teatro – pesquisa sobre performance e intervenção urbana no espaço inusitado. Por meio do projeto Teatro de Fronteira: as (in)existentes Faixas de Gaza na pauliceia desvairada realizaremos imersões artísticas em dois territórios: nas divisas de Heliópolis com Ipiranga e na Rua Augusta, tendo como faixa separatista a Avenida Paulista. Investigaremos hibridismos entre teatro performático e performance teatral, tendo como foco a relação com o espectador, além de pautar as dramaturgias da cena sob a real interferência do acaso.
Atualmente a Artehúmus tem como integrantes Evill Rebouças, Solange Moreno, Daniel Ortega, Edu Silva, Roberta Ninin, Cristiano Sales e Natália Guimarães.
Todas as produções da companhia são realizadas em parceria com a Cooperativa Paulista de Teatro e dentre os eventos e projetos relevantes, a companhia foi participante e proponente:
Projeto SESC Latinidades – Reflexos de Cena em Qorpo Santo
Festival Internacional do Porto (Portugal)
Projeto de Ocupação do Arena 3 x 1: Um por (Todos)² por Hum!!!
Projeto Ateliê Compartilhado (Lei de Fomento ao Teatro/2007)
Projeto OHamlet – Expedições Poéticas e Públicas (Lei de Fomento ao Teatro/2010)
Projeto Teatro de Condomínio - Cartografia Pública e Privada (Lei de Fomento ao Teatro/2013)
Projeto Teatro de Fronteira – as (In)existentes Faixas de Gaza na Pauliceia Desvairada (Lei de Fomento ao Teatro/2015)
Projeto Cidadão na cena – Prêmio VAI de Iniciativas Culturais (2004)
Circuito Cultura do Interior da Secretaria de Estado da Cultura (2012 e 2013)
Projeto Recreio nas Férias
Projeto Cult-Circuito de São Bernardo do Campo
Quem escreveria então para nós? Surge a primeira peça de Evill Rebouças: Explode seiva bruta. Deu tão certo que a montagem recebeu prêmios e permaneceu por três anos em cartaz.
Nesses três anos de andanças descobrimos universo ainda mais amplo no teatro: existia Antunes Filho! Existia Soffredini! Zé Celso! Paulo Yutaka! Descobrimos também que precisávamos parar para estudar. Paramos. Foi tão revelador que quando voltamos cada um seguiria seu caminho para trilhar outros rumos: Diaulas é cineasta, Kinow é artista plástico, Alvadoro é fotógrafo e Rebouças e Dupin ampliam suas atuações nas artes cênicas.